quinta-feira, novembro 22, 2012

A velha conversa de Pierrot com Arlequim

Há quem diga que nunca, um dia sequer, acreditou poder viver um conto...
Por muitos dias em minha vida fui misto de Arlequim e Pierrot, e lembrando desta fase lembrei-me de um velho texto que por dias foi martelado em minha consciência...

Conforme a publicação, ele é de autoria de "Fernando de Camp", porém não consegui encontrar referências além deste link no Recando das Letras e aí está a fonte...

Um dia li, hj reli, e espero para sempre poder sonhar com contos em minha vida...


Um ciclo que relembrei e resolvi eternizar por aqui.....
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Conversa de Pierrot com Arlequim

Pierrot: Arlequim, essa noite tive um sonho... desses que se sonha... flores densas e desbotadas desciam do céu com toda a brutalidade, cobriam a relva pictórica como a alegria de um abraço. Dele, se avistava o desenho mais lindo e lúdico. Fitou-me como quem espera uma paixão pra vida inteira, um sentimento de carinho e dor que se misturavam. Contudo, a tristeza da incerteza e o calor que vazava do peito me abateram como se quisesse beijar os seus olhos. Fiz sonhar em mim mesmo de que aquele era o meu amor. E enquanto me ocupava com meus devaneios ela se foi. Despertei no banco da praça com meu ar pálido e distraído.
   
Arlequim: Hahaha... não era sonho Pierrot pueril. Eu também a vi... chamava-se Colombina. Loira como o bordado do sol que rasga o céu e branca que até mesmo o mais belo alvor se esconderia diante de tal beleza e delicadeza.

Pierrot: Me lamentei depois, mas ainda a espero... tenho esperanças de ainda a ver, pra lhe contar todas as minhas aventuras e decepções. Olhe Arlequim, você sabe o que é ter e mais tarde perder a quem se ama. Você sabe o que é ver quem se quer partir, mas ainda assim supera a dor com outro amor. Já me cansei de casos vazios, de lamentos aparentemente verdadeiros, da dor que emana da flor despedaçada, pois sei que tenho pressa e que de tantas paixões não é possível que não sobre nem uma pr'a mim.

Arlequim: Vamos Pierrot, você bem sabe que eu não acredito em suposições, em quimeras. O passado é concreto, certo e inquebrantável, o futuro é vago, não há como distinguir ou programar sonhos, todos são de confete... por isso, sabe bem, o presente é a minha casa, aqui fico seguro para beber em meus pensamentos, aqui as coisas acontecem com a brutalidade de sempre, mas ainda há tempo de mudar, de se esquivar...

Pierrot: Mas porque se esquivar de tal beleza? Colombina, como você diz, era o crepúsculo do dia, até o mais fausto Rei se curvaria debaixo dos seus olhos. O desejo de beija-la era inexorável e sentia que ela também o desejava.

Arlequim: E porque não o fez?

Pierrot: Não poderia, era tão imaculada que seria para mim quase uma heresia.

Arlequim: Pois eu o fiz.

Pierrot: Como? A dor que bebes do meu peito já não lhe basta? Ainda assim quer me confrontar com a sua lascívia? Como se atreve?

Arlequim: Pierrot, figura patética, se acalme. Quer que lhe conte como foi?

Pierrot: A sua petulância e luxúria me causam náuseas.

Arlequim: Pois bem, assim se deu o acontecido.
Na mesma noite em que a viste
A encontrei pouco antes
Debaixo de um orvalho
Entre as flores do campo
Nos olhamos como dois pássaros
Mas sem asas
E dei-lhe o que você deseja tanto
Passado o tempo com ajuda do vento
Colombina me desdenhou
Enquanto perdia sangue
E sentia ainda o gosto dos seus lábios
Correu de encontro ao nevoeiro
Indo mais tarde conhecer
Um Pierrot brasileiro

Pierrot: Seu conto é tão abstrato como meu sonho, Arlequim apaixonado.

Arlequim: Sim, mas a paixão passa com o tempo, desse sentimento eu entendo. O amor que tanto pregas é sofrido e indulgente, a paixão é remontada com os pedaços de sensações, boas sensações. Com o tempo se transforma em lubricidade, prazer, são evocações para que o beijo doce de Colombina seja o único a não esquecer.

Pierrot: O amor verdadeiro é o pior dos golpes, por isso o deixam para o final.

Arlequim: O amor que você diz ser verdadeiro não existe. São todos sonhos...

Pierrot: Mas é tão verdadeiro sonhar!

Arlequim: Esse mesmo amor singelo e puro que te faz enveredar pelos devaneios do pensamento lhe dando carícias é o mesmo que te apunhá-la e sangra pelas costas. O vulto suntuoso desse amor cobre de esperanças e riquezas a sombra da lua que te banha. Teu amor é de brinquedo.

Pierrot: E de brinquedo se fazem os beijos e agrados que tanto tens com muitas em uma noite, mas que nada lhe proporcionam ao amanhecer do outro dia. Não sou tão simples assim Arlequim, meus desejos podem ser inalcançáveis, mas ao menos os tenho. Esses sentimentos que ainda não entende só mostram como somos diferentes.

Arlequim: Levando em conta a sinceridade que se mistura com a ingenuidade de uma criança, posso lhe confidenciar que você é um poeta. Vive porque quer achar um modo de viver. Mas há uma gota de sangue em cada poema que você escreve. Esquece Pierrot ilusório, leva a vida de cântico, assim como eu. De tristeza romântica você só enche o mundo com o som de um Pierrot tristonho... e depois?

Pierrot: Qual tristeza não é senão romântica? As outras são considerações sobre assuntos de velhos, recordações que são muitas vezes inventadas no imaginário desses irrefreáveis bobos.
Arlequim: Concordo com suas considerações. Bobos são aqueles que inventam no seu imaginário algo que não fizeram, acreditando, mais tarde, com a insistência da mentira que tudo que diz é verdade, que realmente aconteceu. Pois bem, quem seria este bobo Pierrot?

Pierrot: Então, somos todos bobos, Arlequim sem coração. Em que lugar guarda os seus sonhos? Os meus, os guardo onde posso pegá-los.

Construí então um nada
E forrei com perfume amadeirado
O mesmo que você usava
Que era pr'a me confundir
E sentir um pouco de você
Se a escolha é sua
Espera o verão passar
Que o tempo que sobrar
A gente põe na mão
Feito areia
E deixa escorrer pelos dedos

Arlequim: Eterno sonhador...

Fiz então os olhos perfeitos
De um corpo que um dia
Nunca sonhei
E tinha o beijo mais doce
Que minha boca sorrindo
Fez questão de lembrar


Arlequim: Enfim, meu caro amigo, Arlequim sempre foi um Arlequim e Pierrot será sempre um sonhador que se esconde no seu paraíso onírico acreditando que amor e dor deveriam ser a mesma palavra.

E Pierrot chorou, ao lhe dizerem que era pra esquecer e começar tudo de novo... mais uma chamada pro tecido desbotado, que balançava pra lá e pra cá, pra lá e pra cá...
Fernando de Camp

quarta-feira, setembro 05, 2012

E afinal...o que fica?


"Once upon a time...

Um nobre e tolo rapaz, tão esperto mas tão bobo...
Vivia em sua restrita sabedoria, caminhando pelos vales da vida...
e de tanto confiar, nunca desconfiara que as coisas ruins sempre estavam ao seu redor..
até que certa vez, fez-se necessário abandonar...
-Abandonar?
Sim! Tomar caminhos que lhe foram trilhados mesmo antes de que fosse gerado! Caminhos estes que por mais que não planejados por eles, rumavam a um único destino: O que lhe pertencia!"

...e assim cada qual trilha seu próprio caminho!

Hoje, repentinamente me coloquei a pensar: "Quando foi a ultima bifurcação que passei?"
engraçado, não é qualquer bifurcação, mudança ou escolha, mas sim aquela que nos proporcionou o nosso presente...

Simplesmente caí em confusão por não saber o que exatamente tinha acontecido!
...e qual é a motivação para isso?
"Pergunta sem resposta!"
Porém tenho minha sugestão: acredito que deixei de viver minhas preocupações por aquilo que estava por vir!
Certa vez, após muitas aceitações me cansei...
Pensei em possíveis erros, ações ou qualquer coisa que me fizesse entender as situações e simplesmente nada funcionou!
N-A-D-A!
É humano pensar que há explicação imediata para tudo e isso é mero engano!
Se hoje pudesse dar um conselho a qualquer pessoa perdida, faria o possível para que entendesse que quanto mais se procura explicação, mais se encontra confusão...
...e então só resta uma opção:

"...deixe estar..."

Ignore o tempo ao ponto de ter a oportunidade de entender o que realmente lhe faz bem, pois nem sempre o que achamos que nos faz bem DE FATO é o que nos pertence... é como se buscássemos algo que nos faz bem sem saber que em um lado oculto, o desconhecido apenas fizesse o contrário! Na hora certa você saberá o que fazer, siga as intuições!

Confuso, não é mesmo?

Acaba que com essa atitude introvertida as coisas entram no eixo de tal forma e a vida acaba nos mostrando quem realmente merece o que vem de nós...

Hoje agradeço por ter algumas poucas e verdadeiras companhias, onde elas atravessam diversos elos ou acabam se tornando um novo!

Algumas se tornam ausente, mas mesmo após a distância sabemos que o que existe vai além do interesse...
outras estão sempre uníssonas, tragadas dos mesmos bordões internos...
e outras novas que chegam pra acrescentar...

E veja bem, até mesmo quem te reprime te acrescenta!

Em nossa curva vida, aprendemos a digerir a maturidade sempre das formas mais difíceis que se pode imaginar!

Hoje acabo voltando a esse velho cantinho negro de muitas histórias, onde releio poucas delas e vejo o quanto as coisas mudaram...

Vejo quantos tijolos se formaram ao longo do tempo... alguns firmes no presente, outros insossos que fizeram parte do passado e alguns outros que não merecem nem um pouco estar no futuro...

"Tá cuspindo no prato que comeu, não é moleque?!"
Longe de mim! Agradeço imensamente!
Agradeço por me acrescentar e ver algumas covas se cavam com a própria mão e que a falsa impressão de lealdade é o que rega seus jardins!
Agradeço por me mostrar que simplesmente não fui peça em seus próprios quebra-cabeças
Agradeço por me fazer acreditar ter sido peça importante para sabedoria!

Agradeço por cada passo que me fez encontrar o que hoje sou e onde estou!

Amanhã, pode ser que este seja um capítulo de uma história maluca cheia de vícios!
Mas dentro de mim espero e vivo na esperança de estar vivendo o caminho certo...
Não sou dono do que é ou do que será! De certo fui dono do que fui, hoje não mais, mas um dia sim...

Outro conselho para aqueles que não fazem questão de perguntar:
Seja puro, mesmo no erro seja puro! Puro para reconhecer erros e acertos! Siga com hombridade seu caminho, nunca será em vão... pois um dia saberá onde foram caminhos em areia frágil, ou em terreno firme...

Aprenda! Faça silêncio para entender o barulho...
O caminho sempre nos faz perder diversas coisas, coisas desapegadas que nos presenteiam com novas...

Enfim... viva, agradeça, diga, perdoe, seja sincero consigo e nunca se esqueça de que o que é bom veio do que é bom e o que é ruim veio do que foi ruim mas tudo necessário para ser o que se é!

Muito embora este lugar esteja rodeado de notas mentais, aposto um dedo que não é um desejo singular!

...e afinal ...o que fica?
Fica tudo aquilo que é puro!

(Cada segundo é INFINITO.)